Sabugal - Lorraine - Sabugal
Os percursos da nossa emigração para a Europa têm a extensão da nossa fronteira terrestre clandestina. Feitos de ratoeiras, perigos escondidos, pés doridos, pele arranhada pelas silvas que fazem as vezes de arame farpado, viram passar centenas de milhares de pessoas durante as décadas de 50, 60 e 70 do século passado. Os países destruídos pela II Guerra Mundial precisavam de mão de obra e os emigrantes portugueses, oriundos maioritariamente do interior rural, fugiam a uma pobreza difícil de descrever.
Já me pediram que registasse em livro as memórias de alguns destes protagonistas. Atualmente, tenho em mãos o relato das histórias de vida de dois casais. Uns são transmontanos e conheceram o primeiro itinerário, tendo atravessado a salto a fronteira de Chaves e de Vinhais. O outro casal é constituído por um beirão do Sabugal casado com uma francesa. Em comum, têm a coragem, a audácia e o sentimento de inadaptação. Em França, eram estrangeiros. Quando quis abrir um negócio por conta própria, um destes senhores ficou a saber que não tinha esse direito por não ser cidadão francês. Em Portugal, não conseguem despir o capote de emigrantes, ao qual se agarram todo o tipo de preconceitos, desde o chavão do baixo nível cultural até à ideia (quantas vezes cimentada pela inveja) de que são exibicionistas e só vivem para trabalhar e acumular riqueza.
Mudaram de vida, ganharam dinheiro, é certo, mas não é essa a bitola do seu sucesso.
No caso de uns, o orgulho está nos filhos, nos seus estudos e profissões e nos cargos importantes que ocupam em França.
Para os outros, o ter voltado à terra que se deixou com 10 anos e ter contribuído para que ela evoluísse é o que faz bailar a lágrima no olho. Ter deixado uma aldeia que não tinha estrada, nem luz, nem telefone, nem... nem... e voltar para trabalhar na agropecuária com métodos mais avançados, vindo simultaneamente a ocupar cargos políticos só foi possível com grande comprometimento que criou um tampão contra as críticas.
São histórias individuais que fazem parte da nossa história coletiva. Os caminhos que abriram expandiram o nosso país e a nossa cultura, não podem ser ignorados.