Não é fácil falar ao outro sobre o que sentimos. É difícil deixá-lo a sentir o mesmo que nós ao lhe descrevermos o perfume de uma flor que não conhecíamos e descobrimos num jardim inesperado.
Mas podemos fazê-lo imaginar. Podemos dar-lhe a cheirar a nossa interioridade, através das palavras, mesmo não estando a pegar na flor nem a sentir o verdadeiro aroma dela. O papel passa a ser a nossa flor e os registos e a descrição registada a sensação de bem-estar, de tranquilidade que se sente ao inspirar aquele perfume.
No sábado, estivemos na biblioteca Municipal de Penalva do Castelo a realizar um Workshop de Escrita Criativa e as sensações foram as protagonistas. Através delas os participantes despertaram os mais variados sentidos do nosso corpo.
Querem sentir? Deixamos-vos alguns dos excertos:
“O cheiro doce e penetrante do alecrim, junto ao portão de entrada da casa onde vivi, com os meus pais e irmãs. O cheiro nostálgico dos bons momentos vividos, das brincadeiras e dos risos.” Ana Bela Lopes
“Na minha infância percorria os campos. Saboreava todos os pólens à minha volta. Calcorreava os matagais e sentia o cheiro a pinho que me entrava nas veias sedentas de liberdade.” Fátima Martins
“Ao acordar, uma brisa suave com leve aroma a alfazema ou lavanda, não sei bem, invadiu sorrateiramente o quarto onde dormia… fazia recordar os tempos de infância vividos na aldeia, onde corríamos e brincávamos no meio dos campos floridos, na Primavera. Apanhávamos estas ervas para depois fazermos uns saquinhos de cheiro”. Ana Paula Pinto
“As brincadeiras com os meus primos são lembranças que jamais se apagarão. São coisas muito boas, como um bom chocolate…” Paulo Lemos
“A espera do bosque. O silêncio das paredes onde se encostam as árvores. A tua voz. A terra molhada em sorrisos. A temperatura quente dos sussurros e as mãos que buscam a terra. Memórias de riacho, verdes como as manhãs. Expectantes.
O tempo a caminhar debaixo do capim. O movimento brusco e calmo de cada pensamento e o céu que espera.
Em azuis de luminosidade lenta.” Lucinda Saldanha
“Nesse jardim havia uma rosa, diferente de todas as outras, forte e guerreira, doce até nos momentos mais amargos da vida” Paula Ramos
“É verdade que nem tudo são espinhos e nem tudo são rosas, nem tudo é bom e nem tudo é mau. É a minha passagem pela vida rodeado destes sentimentos e conflitos que me fazem crescer, aprender e a transformar os sentimentos negativos em energias positivas. É notório que o que transmitimos ao mundo que nos rodeia é devolvido com mais intensidade. (…) A calma interior, o coração aberto e o amor a brotar são os melhores doces e aromas para a felicidade.” Luís António
“Por vezes é melhor guardar a flor num bolso e nalgum momento quando se procura um lenço ou uma morada ter a agradável surpresa do verão, do aroma desprendido pelo vento das abelhas.” Maria dos Prazeres Ferreira
“Olho para a frente e vejo um eucalipto robusto e com um odor bastante agradável a aproximar-se de mim. Eu e a minha bicicleta estávamos prestes a conhecer esta graciosa árvore. Talvez não fosse a situação ideal para este encontro.” Carlos Pina
“Ainda ali, absorvido por aqueles pensamentos voltou a fechar os olhos. Que bom! «Aqui eu sou!» - pensou. «Sou quem eu quiser». Sentiu paz. A paz que lhe proporcionava aquele lugar fez-lhe desejar que a vida fosse um continuar daquele espaço” Ana Paula Figueiredo