E fazer Biografias permite-me isso. Faz com que tenha de ir ao encontro de pessoas que vivem noutros sítios, seja na freguesia ao lado, seja num concelho que só conhecia no mapa.
É tão bom entrar no comboio com um mapa na mala ou conduzir, seguindo um roteiro que decorei. Planear as horas de chegada, preparar um lanche para a viagem, contactar previamente os anfitriões.
Na segunda-feira, acordei muito cedo para apanhar o metro e depois o comboio, com destino a Lisboa, uma viagem semelhante a muitas outras anteriormente feitas, não fosse o facto de sair um pouco antes da capital. Quando saí da estação de Vila Franca de Xira e comecei a caminhar perto do rio tive uma sensação muito física de estar a caminhar em terreno novo. E comecei a lembrar-me de tudo o que a Íria me tinha dito sobre aquela cidade: os pescadores de mar e de rio que se encontram ali, as tradições de campo tão perto da cidade, os touros.
Depois encontrei as quatro mulheres com quem tinha combinado o encontro, três gerações que querem registar o percurso biográfico da sua precursora. Eram elas a Íria, da Vida em Zi, a sua linda filha bebé, a sua prima e a mãe. Todas elas me falaram da avó, das voltas que a sua vida deu e então os pescadores e os toureiros perderam importância porque a minha impressão de Vila Franca de Xira ficará para sempre associada ao tom de voz entusiasmado da Íria enquanto me explicava determinado detalhe, à persistência da bebé em apanhar todos os objetos que se encontravam em cima da mesa do café, ao sabor a limão e a mel, à tranquilidade da mãe a falar da sua própria mãe e ao sorriso bonito da prima.
Viajar para mim tem esta magia de não precisar de meios de transportes ou guias turísticos e de bastar acolher quem me deixa ir ao seu encontro.