Nos seus tempos de universitária, viajara do Brasil para Israel para participar numa campanha de apanha de laranjas num kibutz. Conheceu um agricultor suíço que andava a descobrir mundo. Aos 20 anos viveram uma paixão forte, poderosa e pura. Separaram-se por vicissitudes várias. Ela regressou ao Brasil e ele permaneceu na terra que cheira a flor de laranjeira.
Viveram vidas inteiras com amores novos, ocupações profissionais, projetos, sonhos, tudo o que cabe dentro da espuma dos dias. Vidas sem o peso do que ficou por viver nem o torcicolo de olhar para trás para comparar o presente com o que se deixou no passado.
Até que a morte veio desarrumar a casa dela, deixando-a no limiar do desconhecido. Perdeu marido e mãe, acabou a carreira profissional e o coração andava desencontrado. Saiu de casa, fez voluntariado, reencontrou pessoas... e foi uma velha conhecida que a relembrou da viagem a Israel. Na era das redes sociais, decidiu procurar notícias dos velhos conhecidos e conectou-se com o amigo suíço. A amizade foi resgatada do pó e puxou com ela antigas emoções, num crescendo. Até que foi necessário tomar uma decisão: cortar pela raiz aquela tormenta de sonhos e desejos ou assumi-la conscientemente.
Já entrados nos sessenta, cada um a viver no seu continente, com filhos e uma vida inteira de construções a prendê-los, o que poderiam fazer?
Corajosamente, marcaram um reencontro para ver no que dava.
E o que deu, na cidade banhada pelo Tejo e depois mais a sul em terras algarvias, foi a certeza que o tempo é plasticina nas mãos de quem ama. E que um amor que se regenerou 40 anos depois não apagou a importância dos outros amores e vivências.
Não há idade para a sabedoria de escolher viver com liberdade o resto dos seus dias!
Desliguei o telefone emocionada. Acredito mesmo no poder de uma história de amor!